Tenho, em minha mesinha de
cabeceira, um aparelho de rádio. Antes de dormir, tenho o meu ritual de
leitura, após o qual, ligo o rádio até que o sono me abrace. Não sou insone.
Sou bom de cama. Basta fechar os olhos e dormir. Quando, porém, acordo em meio
à madrugada, automaticamente, ligo o aparelho e começo a procurar o que ouvir.
Minhas preferências vão para a Rádio Gaúcha e, até pouco tempo atrás, a Rádio
Guaíba. Seguidamente, quando quero ouvir boa música, sintonizo em qualquer
Rádio argentina ou Uruguaia, onde ainda há senso estético de alta qualidade, e
nossos ouvidos não correm o risco de serem atacados por uma debilidade
universitária qualquer.
De início, logo que para cá
retornei, lamentava a falta de uma programação intensiva (24h) de nossas rádios
locais. Hoje não mais. Colocá-las no ar para quê, ou para quem? Não vejo
sentido nenhum em tal prática. Analisando, ao longo dos anos, a programação
local, de qualquer uma das emissoras conterrâneas, percebo que são exatamente a
mesma coisa. Sempre me ressenti pelo fato, de que nas programações locais, não
havia destaque para os acontecimentos de nossa comunidade, a não ser eventuais
programas de entrevistas com algum político em voga, ou com os organizadores de
algum evento (eu mesmo já fui entrevistado, quando de alguma peça de teatro em
estréia). Mas isso é muito pouco.
Ao retornar da Capital, em meados de
março, soube que estava no ar, um novo programa, o DIÁRIO DA MANHÃ, concebido e
executado por Jeremias Oliveira, vereador e responsável por um blog de notícias,
o NOSSA GENTE ASSISENSE. E pensei: 'oba, tem novidade na área'. E dediquei-me a
ouvir a dita programação. Pela vez primeira, tínhamos em nosso rádio, um
programa local jornalístico, ágil, crítico, com uma pauta voltada aos anseios
da nossa comunidade, substituindo e ampliando a demanda por um jornal que
circule em nossa cidade (já tivemos dois e um acabou engolindo o outro e, este
um, implodiu de indigestão, completamente cego, buscando luz no fim do túnel
obscuro do seu próprio umbigo). Dentro de sua parca estrutura e contingente
humano que lhe desse respaldo, o programa foi um marco, em se tratando de programação
diária, local, abrangendo os mais variados assuntos e dando voz ativa à
comunidade, que se sentia ouvida e atendida em seus desejos mais urgentes. O
programa foi um porta-voz de nosso povo, que tinha um local onde explicitar
suas necessidades, fazer seus apelos e exigir maiores atenções. Ficávamos ao
par da movimentação de nosso hospital, das ocorrências policiais, de
reclamações dos cidadãos quanto ao funcionamento, ou não, das nossas
instituições públicas; eram abordados os mais variados assuntos, que iam de
futebol a festas no interior, sendo levados convidados para discorrer,
livremente, sobre o fato que lhe dizia respeito, e, sempre, com um toque de
humor e leveza, hábil e responsavelmente conduzido por Jeremias e sua equipe. Como
vocês devem ter observado, falo no tempo passado, curiosamente. Porém, a
verdade é que a alegria durou pouco. Jeremias foi afastado do programa,
certamente por não ter agradado algum 'Saruê" da vida que, sentado em cima
do catecismo herdado de Golbery do Couto e Silva do Serviço Nacional de
Informações, que cerceou a liberdade de imprensa e da cultura brasileira
durante os anos de chumbo, ainda, infeliz e anacronicamente em tempos de
democracia, lança mão de seu arbítrio para, em retrocesso aviltante, manter o
povo de costas à realidade do nosso dia a dia. E voltamos à mediocridade.
O programa continua - inclusive com
o mesmo título (de quem são os royalties?) porém sem o pulso firme e o discreto
charme de seu criador - mantendo alguns quadros fixos, e, no mais, reproduzindo
as benesses as quais somos merecedores e devemos ser eternamente gratos, por
não arrancar-nos do nosso mundo de sonhos. Eu só peço que acordem a Alice, pois
que senão, cabeças continuarão a rolar.
Antonio Carlos
'Dunga' Brunet
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