sexta-feira, 16 de junho de 2023

Nota da Secretaria de Saúde e da Agricultura, sobre a situação epidemiológica de Febre Maculosa no RS

Em virtude da repercussão na mídia dos recentes casos letais de Febre Maculosa no Estado de São Paulo e da crescente busca por informações sobre o assunto de cidadãos do Rio Grande do Sul, as Secretarias de Saúde (SES) e de Agricultura (SEAPI) do Estado do Rio Grande do Sul vem a público através desta nota esclarecer sobre a situação epidemiológica no Estado.

A Febre Maculosa é uma zoonose, isto é, uma doença que pode acometer humanos e outros animais e sua transmissão é dependente da picada de carrapatos vetores infectados. A enfermidade é causada por bactérias do gênero Rickettsia. No Brasil, a doença em humanos é um agravo de notificação obrigatória, podendo causar diferentes apresentações clínicas dependendo da espécie de Rickettsia envolvida. Em animais não é considerada uma enfermidade de relevância clínica, principalmente no Sul do Brasil.

É importante frisar que no Brasil existem diferentes cenários epidemiológicos associados  doença, que variam na espécie de Rickettsia e nas espécies de carrapatos vetores envolvidos. Isto
faz com que haja uma variabilidade significativa de apresentações clínicas e fatore predisponentes. Desse modo, nem todas as recomendações e medidas preventivas indicadas para uma determinada região geográfica se aplicam às outras.

De modo simplificado, existem duas apresentações de Febre Maculosa no Brasil. Uma forma com alto potencial de letalidade, causada pela espécie Rickettsia rickettsii, e uma forma mais
branda e não-letal, causada pela espécie Rickettsia parkeri. A forma potencialmente letal (R. rickettsii) tem sua ocorrência classicamente restrita à região Sudeste do Brasil e, eventualmente, Paraná. O estado de São Paulo concentra a grande maioria dos casos letais de Febre Maculosa. Esta apresentação é classicamente associada a febres e manchas hemorrágicas pelo corpo. 

A forma potencialmente letal de Febre Maculosa associada a R. rickettsii nunca foi registrada no Estaddo Rio Grande do Sul e, atualmente, devido a questões ecológicas e a uma série de estudos científicos não há motivos para acreditar que ocorra em condições naturais no Estado.

A forma mais branda da Febre Maculosa (R. parkeri) é distribuída por toda a zona de abrangência da Mata Atlântica e Pampa do Brasil. A forma branda é a registrada no estado do Rio Grande do Sul. Conforme o Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN NET), entre os anos de 2007 e 2022 foram confirmados 17 casos de Febre Maculosa no Rio Grande do Sul, sem nenhum óbito. Até o momento, em 2023 não há confirmação de casos no Estado. O Estado de Santa Catarina concentra a maior parte dos casos humanos da forma branda de Febre Maculosa.

Até o momento, não há evidências que a Febre Maculosa causada por R. parkeri esteja associada a óbitos no Brasil. A apresentação mais branda está geralmente associada a febre, dores no corpo e a presença de uma escara (lesão) no local de picada do carrapato.

Em relação aos carrapatos vetores de Febre Maculosa, na maior parte do Brasil a transmissão desta doença está associada ao carrapato-estrela, Amblyomma sculptum. Esta espécie de carrapato é extremamente agressiva ao ser humano e pode ser encontrada em uma vasta gama de animais hospedeiros, como capivaras, cavalos, cães, entre outros. Apesar de comum em quase todo o Brasil, o carrapato Amblyomma sculptum não é encontrado no Rio Grande do Sul, essencialmente, por questões climáticas. 

Cabe ressaltar, que há décadas o Governo do Estado do Rio Grande do Sul mantém, através do IPVDF (SEAPI), um programa contínuo de vigilância das espécies de carrapatos encontradas em humanos e animais, visando identificar riscos à saúde humana e animal. Atualmente, 25 diferentes espécies de carrapatos são consideradas de ocorrência confirmada no Rio Grande do Sul.

No Rio Grande do Sul, a transmissão da febre maculosa NÃO está associada ao carrapato-estrela (A. sculptum) e sim a outras espécies de carrapatos do gênero Amblyomma, encontradas em animais silvestres e, ocasionalmente, em cães e gatos. Entretanto, é importante considerar que dados epidemiológicos sugerem que no Rio Grande do Sul, a Febre Maculosa NÃO TEM perfil
de ocorrência em área urbana. A maior parte dos casos de Febre Maculosa no Rio Grande do Sul está associada a pessoas que frequentaram áreas de mata densa, em atividades ocupacionais ou de caça e trilha.

O carrapato bovino (Rhipicephalus microplus) não apresenta qualquer risco de transmissão de Febre Maculosa ao ser humano. Ainda, o carrapato comum do cão nas áreas urbanas (Rhipicephalus sanguineus) também não tem sido implicado como vetor relevante de
Febre Maculosa no Brasil.

A principal recomendação em relação à Febre Maculosa é que em caso de uma pessoa ser picada por carrapatos e apresentar qualquer sintoma nos dias seguintes, procurar imediatamente um serviço de saúde e informar que foi picado por carrapato. Se possível, coletar o
carrapato que picou com auxílio de pinça ou luva (sem esmagá-lo), colocá-lo em um frasco com álcool e entregar em uma Unidade de Saúde, para que seja encaminhado pela vigilância em saúde
municipal para identificação e análise no LACEN/RS. 

Esta recomendação tem especial importância para pessoas que frequentam áreas de mata nativa ou realizam manejo de fauna selvagem nos seus ambientes naturais. Para os cães e gatos, recomenda-se buscar orientação veterinária para evitar ocorrência de carrapatos, mantendo a periodicidade do tratamento antiparasitário.

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