A tendência para a primavera deste ano é de chuva acima a muito acima da média na maior parte do Sul do Brasil por conta da influência do fenômeno El Niño. Espera-se uma repetição do padrão observado em anos como de 1997, 2009 e 2015 com grandes excessos de chuva, em particular no Rio Grande do Sul, em que alguns meses podem terminar com até o dobro ou triplo da precipitação média histórica mensal.
Por outro lado, na maior parte do Centro-Oeste e do Sudeste do Brasil a tendência sazonal indica uma primavera com precipitações abaixo a muito abaixo da média. Pontos mais ao Sul das duas regiões, sobretudo do Mato Grosso do Sul e de São Paulo, é que podem ter estação com precipitação perto ou acima da média.
Episódios isolados de precipitação volumosa em curto intervalo, acompanhando sistemas convectivos, podem contribuir para algumas áreas do Centro-Oeste e do Sudeste terem chuva acima da média, mas poucas.
Projeção de anomalia de precipitação (desvio da média) no trimestre setembro a novembro do modelo do Met Office (Reino Unido) | METSUL |
Projeção de anomalia de precipitação (desvio da média) no trimestre setembro a novembro do modelo do SEAS5 (Centro Meteorológico Europeu) | METSUL |
Projeção de anomalia de precipitação (desvio da média) no trimestre outubro a dezembro do multi modelo NMME (NOAA) | METSUL |
Projeção de anomalia de precipitação (desvio da média) no trimestre outubro a dezembro do modelo GEOS (NASA) | METSUL |
O Rio Grande do Sul é o estado que mais preocupa no Sul do Brasil nesta nova estação. Isso porque o mês de setembro terminará com volumes extraordinariamente altos no estado e com os níveis dos rios acima a muito acima dos seus níveis normais. A tendência de uma primavera mais chuvosa e com excessos de precipitação agrava demasiadamente os riscos hidrológicos, assim que novas enchentes devem ser esperadas e com risco de serem de grandes proporções.
O Oeste gaúcho, até agora poupado de grandes cheias no Rio Uruguai, será região do estado em que o risco de enchentes aumentará muito ao longo desta primavera. Há uma mudança no regime de chuva no Centro-Sul do Brasil na primavera. No Centro do Brasil, a estação seca que tem seu auge no inverno chega ao fim e a chuva começa a se tornar mais frequente à medida que a estação avança com maior influência de ar tropical quente e úmido.
Temperatura na estação Como estação de transição para o verão, na primavera aumenta a frequência de dias de calor e diminui os de frio. O começo da estação ainda tem características mais amenas e até com frio em alguns dias, ao passo que o final já tem padrão típico de verão. Os dias de calor aumentam, especialmente entre novembro e dezembro, quando algumas jornadas são muito quentes com possibilidade de ondas de calor e marcas perto ou acima de 40ºC.
A tendência é de uma primavera com temperatura acima a muito acima da média em quase todo ou mesmo em todo o Centro-Sul do Brasil. Onde a temperatura deve ficar mais acima da média é no Centro-Oeste e no Sudeste, onde é possível que em várias cidades a primavera deste ano possa ser a mais quente ou a segunda mais quente já observada desde o começo dos registros há um século no Brasil, ou seja, será uma estação excepcionalmente quente.
A alta frequência de chuva dificulta a ocorrência de ondas de calor de mais longa duração no Sul do Brasil, mas, por outro lado, a maior umidade tornará os dias mais abafados e com noites mais quentes. Em novembro e dezembro cresce o risco de episódios de calor muito intenso a extremo de calor que podem vir a caracterizar ondas de calor no Sul. No Centro-Oeste e no Sudeste, ao contrário, há uma probabilidade maior de fortes a intensas ondas de calor com extremos até históricos de temperatura.
O períodos mais crítico para estes extremos de temperatura será compreendido entre este final de setembro e novembro, uma vez que a partir de dezembro a maior ocorrência de chuva torna menos provável eventos de temperatura muito acima do normal por longas sequências de dias. Temporais serão mais frequentes nesta primavera A MetSul destaca que a primavera é período com maior frequência de tempestades, não raro severas com intensos vendavais e granizo.
Há precedentes de tornados na estação. Neste ano, com o Pacífico aquecido e uma tendência de temperatura e chuva acima da média no Sul do Brasil, a MetSul avalia que a frequência de tempestades pode ser muito alta no Sul do Brasil. Espera-se, por exemplo, que ocorra com frequência maior do que o habitual um sistema típico da primavera que são os Complexos Convectivos de Mesoescala, aglomerados de nuvens muito carregadas que se formam com o calor úmido no Nordeste da Argentina e no Paraguai que avançam para o Mato Grosso do Sul e o Sul do Brasil.
Este tipo de sistema, que tem ápice de intensidade à noite, costuma trazer muita chuva com volumes altíssimos em curto período e temporais de vento, raios e granizo. O tempo muito mais quente que o normal no Centro-Oeste e no Sudeste, mesmo que haja um indicativo de chuva abaixo da média na maior parte destas regiões, deverá favorecer uma maior frequência de tempestades isoladas também no Centro do Brasil durante a primavera deste ano.
São formações que se dão principalmente à tarde e à noite pela convecção gerada pelo calor muito intenso, capazes de trazer vendavais, granizo e chuva torrencial. Estação costuma ter mais vento Uma condição típica da primavera no Rio Grande do Sul é o vento que sopra da tarde para a noite do quadrante Leste, às vezes com rajadas fortes. Como as massas de ar frio de alta pressão atmosférica começam a ter trajetória mais oceânica e o continente passa a aquecer mais com baixas pressões no Norte da Argentina e no Paraguai.
O contraste térmico entre ar frio na costa e ar quente no continente, assim como de pressão, acentua o vento da tarde para a noite do quadrante Leste, sobretudo em outubro e novembro, o que rendeu a expressão popular de “Vento de Finados”. Neste ano, como se espera uma menor frequência de incursões frias, o vento Leste da tarde para a noite será menos frequente que em anos anteriores de La Niña e muitas incursões frias tardias. A estação ainda tem risco de ciclones extratropicais no Atlântico Sul e que, em alguns casos, podem ser intensos e provocar muito vento e forte ressaca do mar na costa gaúcha. Com El Niño, contudo, o risco destes ciclones é maior no inverno e menor na primavera, uma vez que o predomínio de ar mais quente nas latitudes médias resultará em menor contraste com massas de ar frio (baroclinia), o mecanismo que forma os ciclones.
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