quarta-feira, 18 de outubro de 2023

Operação mira grupo suspeito de caçar javalis e de praticar maus tratos contra cães em São Francisco de Assis e Santiago

Uma operação contra caça irregular e maus-tratos de animais foi realizada na Região Central nesta quarta-feira (18). O alvo é um grupo suspeito de praticar a caça de javalis, animal silvestre exótico, sem autorização, e utiliza cães, que são deixados sem alimentação, para atuar nas capturas, conforme a Polícia Civil.

Trabalho conta com 21 policiais civis e tem apoio de servidores da Secretaria Estadual do Meio Ambiente (Sema).
Foto: Polícia Civil / Divulgação
Armas foram apreendidas. Foto: Polícia Civil/Divulgação
Cachorros utilizados na caça aos javalis ficavam sem comer.
Foto: Polícia Civil / Divulgação

O trabalho ocorreu nos municípios de São Francisco de Assis e Santiago, e foi comandado pela Delegacia de Proteção ao Meio Ambiente (Dema), que integra o Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic). Na ação, um homem foi preso em flagrante por posse ilegal de munições.

São cumpridos 12 mandados de busca e apreensão nas residências e em demais locais frequentados pelos envolvidos.
Foto: Polícia Civil / Divulgação
Cabeças de javali empalhadas foram apreendidas.
Foto: Polícia Civil / Divulgação
Policiais carregam caminhonete com material apreendido.
Foto: Polícia Civil / Divulgação

Foram cumpridos 12 mandados de busca nas residências e em locais frequentados pelos envolvidos. As equipes apreenderam armas, pedaços de carnes congeladas, partes de esqueleto que seriam de javalis e cabeças empalhadas. Também foi encontrado o corpo de um tatu amarrado, morto recentemente, e partes de lebres — animais que não têm a caça permitida. Os objetos confiscados irão auxiliar as equipes nas próximas etapas da  investigação.

Um javali vivo também foi encontrado, que seria criado pelo grupo, o que também é proibido.

O trabalho contou com 21 policiais civis e teve apoio de servidores da Secretaria do Meio Ambiente e Infraestrutura (Sema) do RS.
Conforme a polícia, foram constatadas diversas ilegalidades cometidas pelo grupo. Além da caça irregular e da crueldade contra os javalis, os suspeitos também praticariam crimes como porte ilegal de arma de fogo e maus-tratos a cães.

A investigação começou há cerca de dois meses, quando duas ocorrências envolvendo um cachorro foram registradas na polícia, em São Francisco de Assis. Em uma delas, um dos caçadores alegou que uma mulher pegou seu cachorro. Na outra, a mulher afirmou que o homem cometia maus-tratos, usando o cão em caçadas, e que ela teria então resgatado o animal. 

Ao verificar o caso, a polícia identificou que o homem participava de um grupo de caça a javalis e também tinha histórico de perda de cães durante essas ações. Conforme a delegada Samieh Saleh, titular da Dema, o grupo utiliza os cães nas perseguições, promovendo confrontos entre os animais. 

Em alguns casos, a polícia afirma que os suspeitos chegam a arrastar os javalis. Também há imagens que mostram eles sendo mutilados e feridos progressivamente, tanto pelos cachorros quanto pelos próprios caçadores.

Em imagens feitas pelo grupo e obtidas pela polícia, é possível ver que o transporte dos javalis abatidos é realizado de forma incorreta, como na garupa de motos. Alguns deles ainda estão vivos, mas bastante feridos, durante o trajeto.

— Embora seja permitido o abate de javalis, ele deve ser feito em caráter de controle de praga e precisa seguir uma série de etapas, que geralmente não ocorre nessas ações ilegais. Neste caso, verificamos que a maioria dos investigados não possui autorização para caçar os animais. Alguns deles possuíam permissões vencidas ou em desacordo com a prática realizada nas caçadas — pontua a delegada.
A investigação apontou também que alguns homens que integram o grupo têm registro de Colecionador, Atirador Desportivo e Caçador (CAC).

— Temos fotos de indivíduos mostrando as armas, sendo que não tinham autorização para tê-las. Também temos a informação de que pessoas que têm o registro, os CACs, participam do grupo e emprestam armamento para os colegas, incidindo também no crime de porte ilegal de arma de fogo — explica Samieh.

Além dos maus-tratos cometidos na caça, o grupo também consumia e comercializava a carne dos javalis. Nesse sentido, a ação irregular também pode resultar na disseminação de doenças, já que não há controle da carne destes animais, alerta a polícia.

Cães eram feridos e deixados sem comer

Os cachorros usados pelo grupo eram "constantemente feridos" e ficavam sem alimentação, segundo o diretor da Divisão de Investigação do Deic, delegado Eibert Moreira Neto:
— Os ferimentos dos cães são provocados tanto na caça ao javali, durante o ataque, quanto na criação. Para que façam a caça, são feridos, na intenção de ficarem agressivos, e também são privados de alimentação. Muitos cães também se perdem do grupo e ficam vagando pelo mato após as caças.

Segundo a polícia, o manual de controle de javalis, do Ibama, regulamenta que os cães usados nas caças devem estar devidamente identificados (com placa dos dados do proprietário e coleira com GPS, por exemplo) e não podem ser expostos a riscos ou abandono. O regulamento também proíbe a prática de quaisquer maus-tratos, tanto aos cães quanto aos javalis.

Além disso, a legislação prevê que os cães só podem ser usados para buscar e cercar os javalis, e não para atacá-los, explica Mateus Evangelista Leal, chefe da Fiscalização do Departamento de Biodiversidade da Sema.

— O caçador autorizado não tem capacidade de buscar sozinho o javali, então se utiliza de cães para encurralar o animal, prendê-lo, e depois abater. Mas é preciso seguir normas, como usar coletes de proteção nos cachorros para evitar mordidas. Mas mesmo assim já temos um problema: se ele precisa de proteção, é porque será submetido propositalmente a ação de um animal que pode acabar com o cachorro, mutilar ele. Então o caçador, mesmo quando segue a lei, submete o cão a um risco alto.

O coordenador pontua ainda que é comum que os cachorros se percam no mato, e deixá-los no local configura abandono, o que também é vedado.

No caminho, outros animais são abatidos
Além da captura de javalis, alguns grupos que praticam as ações irregulares também acabam matando outros animais, o que é proibido por lei, afirma Leal.

— Há vários problemas causados pela caça ilegal. Um deles é que nem sempre o objeto de captura é o javali. Em diversas operações como essa, acabamos apreendendo, com os caçadores, carne e partes de outros animais como quatis, tatus, cervos, capivaras, aves, pombas. Esses indivíduos se valem da possibilidade de caçar javalis e, às vezes, por não ter encontrado esse animal, acabam abatendo o que acharem pelo caminho. As carnes são consumidas e até comercializadas — explica Leal.

Diretora do Deic, a delegada Vanessa Pitrez pontua que, além de coibir a crueldade aos animais, operações do tipo também tem por objetivo evitar o desequilíbrio ambiental que ações irregulares causam.

— O foco da investigação que resultou na operação desta quarta é combater tanto os maus-tratos cometidos a animais domésticos e silvestres quanto a caça ilegal de javalis e outros crimes como a venda irregular de sua carne. O departamento tem dado muita atenção a estes tipos de crimes não só pela crueldade com que são praticados, mas pelo desequilíbrio ambiental que ocasionam e os riscos à saúde que podem gerar nas comunidades onde a carne do animal irregularmente abatido é consumida. Por esse conjunto de fatores, seguiremos combatendo veementemente essa práticas criminosas — afirma Vanessa.

Apreensões

  •     10 armas apreendidas
  •  munição de variados calibres
  • equipamentos pra recarga de munição
  •  dois tatus e carne congelada de tatu
  •  32 carcaças de aves silvestres congeladas
  •   restos de animais silvestres (dezenas de orelhas de lebre e tartaruga)
  •   dezenas de carcaças de javali
  •  cabeças de javali utilizadas como troféu

Denúncias

Quem tiver informações sobre os casos pode entrar em contato com a Polícia Civil. O sigilo é garantido pelas equipes. Os canais são o Disque-denúncia do Deic, pelo telefone 0800 510 2828, ou pelo WhatsApp e Telegram, no (51) 98444-0606.

Fonte/texto: GZH

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